Joaquim Maria Machado de Assis
1839 - 1908
Dom Casmurro
XLVII
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Capítulo XLVII“A Senhora Saiu”
– Está bom, acabou, disse eu finalmente; mas, explique-me só uma coisa, por que é que você me perguntou se eu tinha medo de apanhar?– Não foi por nada, respondeu Capitu, depois de alguma hesitação... Para que bulir nisso?– Diga sempre. Foi por causa do seminário?– Foi; ouvi dizer que lá dão pancada... Não? Eu também não creio.A explicação agradou-me; não tinha outra. Se, como penso, Capitu não disse a verdade, força é reconhecer que não podia dizê-la, e a mentira é dessas criadas que se dão pressa em responder às visitas que “a senhora saiu”, quando a senhora não quer falar a ninguém. Há nessa cumplicidade um gosto particular; o pecado em comum iguala por instantes a condição das pessoas, não contando o prazer que dá a cara das visitas enganadas, e as costas com que elas descem... A verdade não saiu, ficou em casa, no coração de Capitu, cochilando o seu arrependimento. E eu não desci triste nem zangado; achei a criada galante, apetecível, melhor que a ama.As andorinhas vinham agora em sentido contrário, ou não seriam as mesmas. Nós é que éramos os mesmos; ali ficamos, somando as nossas ilusões, os nossos temores, começamos já a somar as nossas saudades. |